quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Vermelho por dentro























Estão envolvidos em corpos negros vermelhos por
dentro. Estão num barco sobre o mar e o mar é
negro. É de noite. O céu está negro e sobre a
água negra tudo é vermelho por dentro.
Os corpos eram negros
sobre o mar a água era de noite
não se via o vermelho por dentro
os corpos não se viam
eram barcos com os ventres todos negros
e as línguas eram de águas muito rentes
A sangue não sabia
não se via o vermelho por dentro
o céu a água envolvia
tudo envolvia nos vermelhos dentros
e os mares todas as noites estavam negros
negros por dentro
E a água volvia pelo céu tão negra
e à noite por dentro do mar todo vermelho
a noite era vermelha
e os barcos negros por dentro
E nos corpos a água negra era vermelha por dentro
e eles estavam envolvidos
e

O Vermelho Por Dentro de Ana Hatherley

Fotografia de BEN STANSALL, econtrada aqui:
http://www.timesofisrael.com/eu-to-weigh-military-action-t…/


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sobre Pesquisa Performativa em Espaço Público I.




No próximo Domingo, dia 2 de Agosto, o projecto Ofélia sai à rua para fazer a sua primeira apresentação pública na Praça da Devesa, pelas 18h30.
Vimos para a rua para iniciar um caminho de partilha do processo de criação do espectáculo Ofélia com a comunidade de Castelo Branco.
Fazemo-lo usando a performance. Vamos experimentar, em situação, em tempo real, algum do vocabulário coreográfico que temos vindo a criar nos nossos ensaios. Vamos desafiar-nos em conjunto, num processo de escuta elevado. Cada mulher participante – vamos ser 8 - vai precisar de escutar o grupo, o espaço, quem passa e a si própria. Desta experiência iremos retirar novos elementos para trabalhar na sala de ensaios. Tudo o que acontecer, naquele momento, naquele lugar será novamente transformado, redimensionado. Estar em processo de criação para nós é isso mesmo, propor, experimentar, seleccionar, analisar, sintetizar até chegar a uma linguagem, a um pensamento muito próprio. Sempre em relação. As artes performativas constroem-se na relação. Relacionamos sentidos, relacionamo-nos entre nós enquanto pessoas envolvidas no processo, até chegarmos ao momento crucial em que nos colocamos em relação com o público.
O espectáculo Ofélia só estreará dia 9 de Outubro, no Centro Artístico Albicastrense. Domingo damos mais um passo nessa direcção.
Escolhemos fazê-lo na rua – nas Docas - intencionalmente.
A Violência e o seu exercício, seja sobre quem for, assumindo seja que forma for, física ou psicológica, visível ou invisível, é um assunto que diz respeito a todos e a todas. Interessa a todas as pessoas estar atentas, ser conscientes de forma activa e não alarmista. Somos, duplamente alvos e instrumentos de Violência. Não é, não pode ser do foro do privado, não se encontra apenas em sítios distantes que entrevemos em imagens dos média.
Performar na rua tem esse intuito, levantar questões a todos e a todas.
O formato que escolhemos para este momento em particular pensa o público e o privado, o interior e o exterior, a pessoa e a comunidade.
Fazer da praça o nosso lugar de actuação pretende estabelecer elos de ligação,  deixar pistas que abram espaços de interpretação das linguagens das artes performativas, que comunicam, simplesmente, e em primeiro lugar através do corpo que se expressa de forma múltipla e imediata. A todos os que passarem por ali no Domingo, deixamos o convite: Estejam connosco aceitando todas as sensações, estranhezas e pensamentos.

Maria Belo Costa | Pé de Pano – Projectos Culturais



sexta-feira, 24 de julho de 2015

ESTUDO PERFORMATIVO I - Encontro com espaços públicos de exterior



A violência pode exercer um efeito de desaceleração sobre o corpo. É o invés da força.
Silêncio, imobilidade e queda. 
Sem resignação. Desconstruímos a velocidade da dor física. 
Imobilidade em queda. 
E exercitamos a capacidade desta desconstrução ser geradora de reacção.


 




domingo, 5 de julho de 2015

OFÉLIA EM PROCESSO

Certamente, uma das mais óbvias distinções entre o poder e a violência é que o poder tem a necessidade de números, enquanto que a violência pode, até um certo ponto, passar sem eles por basear-se em instrumentos. (...) A forma extrema do poder resume-se em Todos contra Um, e a extrema forma de violência é Um contra Todos. E esta última jamais é possível sem instrumentos. Da violência, Hannah Arendt


O Projecto Ofélia arrancou no dia 9 de Maio com um grupo de 12 mulheres que, desde então, se tem encontrado no Centro Artístico Albicastrense em sessões de trabalho regulares.
Ao longo de quase dois meses, temos vindo a desenvolver um processo de pesquisa-formação performativa orientado para a estruturação de uma linguagem comum (estética, artística e conceptual) e para uma pesquisa teórico-prática sobre a Violência englobando os seus diversos sentidos e formas.
Perseguimos sobretudo a ideia de que o trabalho de construção e desconstrução criativa do gesto, do movimento, do som, da palavra, da sensação, da emoção e da memória constituem ferramentas metodológicas válidas não apenas para o universo da criação artística mas também para a investigação nas áreas das ciências humanas e das ciências sociais.
Ficam algumas imagens reveladoras de diferentes momentos deste processo.










quarta-feira, 22 de abril de 2015

Pé de Pano – Projectos Culturais procura mulheres a partir dos 18 anos


A Pé de Pano – Projectos Culturais procura mulheres a partir dos 18 anos para integrarem o elenco do seu próximo espectáculo OFÉLIA, que deverá estrear no último trimestre de 2015.


A primeira sessão será no dia 9 de Maio, pelas 15h00, no Centro Artístico Albicastrense. As inscrições e pedidos esclarecimentos poderão ser realizados através do email: Info.pedepano@gmail.com.

OFÉLIA é um projeto de criação artística comunitária que usa como base de reflexão e como estímulo criador o conceito de VIOLÊNCIA. Com este novo projeto de criação, visamos a construção de um espetáculo de Dança-Teatro interpretado apenas por mulheres, uma performer profissional e um grupo de mulheres da comunidade de Castelo Branco.

OFÉLIA dará continuidade à criação anterior, Medo de Ser Matéria, de Peter Michael Dietz e Maria Belo Costa, desenvolvendo um trabalho de pesquisa à volta da temática do Medo em relação com a construção do Ser. A VIOLÊNCIA é um tema que se alia facilmente ao Medo. O Medo está absolutamente disseminado na nossa sociedade e a Violência, muitas vezes surda, dissimulada, invade-nos de forma brutal e massificada, toma múltiplas formas e infiltra-se em meios muito diferenciados, tanto nas relações sociais quanto nas relações familiares e profissionais.

Pretendemos trabalhar apenas com Mulheres porque, em pleno século XXI, são as mulheres, oriundas de diferentes classes sociais, etnias, idades e nacionalidades, o grupo social mais afectado por situações de violência. Aqui falamos não apenas de violência física, mas também de violência psicológica.

Porque este problema não é exclusivo das mulheres e também atinge os homens, partimos das perspectivas de um grupo específico de mulheres admitindo que estas são importantes testemunhas das vidas dos seus pais, filhos, maridos e companheiros e, neste sentido, transportam em si visões sobre a violência que, mais do que  pessoais, dizem respeito a toda a sociedade. Neste ponto, evocamos a tragédia grega As Troianas de Eurípedes, que tomamos como inspiração, cujo enredo, a queda de Tróia, é contado, principalmente, pelas palavras das mulheres Andrómaca, Helena, Hécuba e Cassandra.